sábado, 4 de fevereiro de 2017

Como e Por Que Ler para um Bebê?



Muitos pais perguntam quando devem começar a ler em voz alta para os filhos. Em geral, eles têm consciência da importância de estimular a leitura desde cedo. Mas muitas vezes não sabem como fazê-lo, não têm noção da quantidade de benefícios que essa prática pode proporcionar e possuem ainda alguns questionamentos que pretendo responder aqui.

Ler para um bebê na barriga da mãe não é uma tremenda perda de tempo?

Por volta do terceiro trimestre de gestação os bebês já são sensíveis a sons, inclusive à voz das mães. Experimentos demonstraram que recém-nascidos são capazes de reconhecer histórias que ouviram muitas vezes quando estavam no útero. A exposição a elas provocava a diminuição da freqüência cardíaca nos bebês, o que sugere que ouvir as histórias os deixava mais tranqüilos e concentrados – algo similar acontece com a música. Por isso, é recomendável que os pais leiam para bebês que ainda estão no ventre materno, sobretudo a partir do momento em que começam a ouvir a voz da mãe (por volta da  22a semana de gestação).

Se o bebê ainda não fala, por que ler para ele?

Após o nascimento do bebê, a leitura em voz alta proporciona uma série de benefícios:

– Estreitamento da relação afetiva entre pais e filho.

– Desenvolvimento da compreensão auditiva, determinante para a futura compreensão de textos.

– Treinamento da memória auditiva de curto prazo.

– Enriquecimento do vocabulário e contato com frases mais extensas e estruturas sintáticas menos comuns na linguagem oral. Livros sem palavras ou com uma linguagem muito prosaica obviamente não proporcionam esses benefícios.

– Entendimento gradual de que a palavra escrita representa a palavra falada, fator determinante para um posterior sucesso em leitura.

– Aquisição do gosto pelos livros e pela leitura. Para tanto, é importante não só que os pais leiam para os filhos, como também que os filhos vejam os pais lendo sozinhos.

Além disso, crianças expostas à leitura desde cedo tendem a ter um melhor desempenho em leitura e compreensão de textos no Ensino Fundamental.

Lembro que esses benefícios dependem muito da freqüência da leitura, da qualidade da interação verbal realizada e, de maneira geral, da forma como os pais realizam a leitura.

Como ler para bebês com menos de 1 ano?

Ao ler para um bebê com menos de 1 ano, interaja verbalmente com ele. Leia um trecho da história, apontando para as ilustrações. Mantenha tanto quanto possível o contato visual. Gestos e modulações da voz também são boas estratégias para chamar a atenção. Observe que ele responderá à leitura com um contato visual, movimentando o corpo ou balbuciando algo: é assim que os bebês “conversam”. Isso também é uma prova de que estão atentos, embora ainda não sejam capazes de responder com palavras.

Não tenha pressa: se seu filho se interessar por uma ilustração, deixe que ele a aprecie. Também é fundamental ler pausadamente, enunciando de maneira clara cada palavra.

A voz materna é especialmente atraente para o bebê, portanto é bom que a mãe leia para o filho. E os pais podem trazer para a leitura algumas características da “fala materna”, que empregam naturalmente em suas “conversas” com os bebês: aumentar o volume da voz, falar mais lentamente e pronunciar as palavras com mais clareza, para que os bebês escutem melhor; destacar e prolongar as vogais, facilitando a percepção dos padrões lingüísticos; usar um registro mais agudo da voz; falar de maneira melodiosa e carinhosa. Essa forma particular de os adultos se dirigirem ao bebê também tem um impacto emocional positivo.

Mas meu bebê não fica quieto…

Não pense que seu bebê se manterá imóvel e em silêncio enquanto você lê para ele. Bebês costumam mexer-se bastante e às vezes respondem à estimulação verbal com o corpo. Isso é normal e não significa que eles não estejam prestando atenção!

Durante a leitura em voz alta, se o bebê quiser manipular o livro, deixe-o fazê-lo por algum tempo e depois retome a leitura. Ele aprenderá pouco a pouco a manusear um livro, a passar as páginas, a segurá-lo corretamente, a apreciar as imagens… Manipular livros cria familiaridade com eles, além de desenvolver um apreço precoce por esses objetos que os bebês ainda não são capazes de explorar por si sós de outra forma.

A partir dos 6 meses, um bebê é capaz de manusear livros cartonados, de pano ou plástico, mas em geral leva-os imediatamente à boca. Se seu filho se mostrar um “leitor” demasiado voraz, buscando tomar o livro para si o tempo todo, uma opção é dar a ele um objeto para manipular enquanto você lê. Embora brincando com o objeto, ele estará absorvendo o que escuta. Os bebês têm muita dificuldade para se fazer entender – já que ainda não conseguem falar –, porém são incrivelmente capazes de absorver o que lhes dizem.

Para evitar que o bebê fique muito agitado durante a leitura, escolha um ambiente silencioso e sem muitas distrações. Estabelecer um horário fixo do dia para ler também pode ajudar: eles se sentirão mais seguros e tranqüilos se a leitura fizer parte da rotina. Fazendo isso, você também estará promovendo o desenvolvimento do hábito de leitura.

Será que ele entende alguma coisa?

Os bebês só começam realmente a compreender algo do que é lido por volta dos 6 meses, quando passam a entender que uma palavra ouvida pode representar um objeto, uma pessoa ou um fato. Reconhecem primeiramente palavras com que têm contato mais freqüente, como “mamãe”, “papai”, “irmão”, “leite”, “mamadeira”, “papinha”, “água” e “berço”.

Aos 10 meses, os bebês já conseguem entender cerca de 40 palavras, número relativamente alto. E muitos são capazes de compreender frases de até 3 palavras. Na fase do balbucio, os bebês conseguem entender muitas das palavras que escutam, embora não as consigam pronunciar.

Porém, ao ler para um bebê de menos de 1 ano, fazer com que ele compreenda o texto não é o objetivo principal da leitura!

Como escolher o livro?

Para crianças de até 18 meses são indicados os livros cartonados, de pano ou de plástico, não só porque resistem ao instinto de levar tudo à boca e às investidas das mãozinhas, mas também por serem mais fáceis de manusear. Uma criança de 18 meses, por exemplo, ainda não é capaz de folhear um livro com páginas de papel de baixa gramatura, mas pode fazê-lo tranqüilamente com um livro cartonado. Para facilitar o manuseio, opte por livros pequenos.

Dos 6 aos 18 meses, livros com texturas, figuras coloridas, ilustrações de animais e objetos despertam bastante a atenção dos bebês. Livros com fotos de bebês são especialmente fascinantes e podem ser usados para a ampliação do vocabulário de escuta. Nomeie para seu filho cada parte do rosto dos bebês (nariz, boca, olhos, testa, queixo etc.) e aponte a seguir a parte correspondente no rosto dele. Diga, por exemplo: “Veja o nariz do bebê. Você também tem um nariz. Veja os olhos do bebê. Você também tem olhos”.

Ouvir os pais nomeando objetos que ele reconhece ajuda o bebê a aumentar seu vocabulário e a entender que ilustrações representam coisas reais. Nomeie um objeto na ilustração e aponte para a imagem. À medida que ele for aprendendo a falar, passe a apontar para as imagens e pedir que ele mesmo nomeie os objetos. Você também pode usar um livro com figuras de animais e perguntar, por exemplo, “Como é que o cachorro faz? Como é que a vaca faz?”.

Dos 18 meses em diante, opte por textos rimados (poesias, parlendas e letras de canções folclóricas) e ricos em repetições. Narrativas rimadas, fábulas em versos e histórias acumulativas costumam agradar os pequeninos, além de serem memorizadas com certa facilidade. Invista ainda em livros com muitas ilustrações atraentes e belas, possibilitando as práticas da nomeação (apontar um objeto ou cena e dizer o que é – ou pedir que a criança o faça), descrição de cenas e objetos e construção de enredos a partir das imagens. Com suas próprias palavras, crianças de 2 anos já começam a completar trechos familiares de suas histórias favoritas, mesmo sem que você as estimule a fazê-lo.

E por que não ler para seu bebezinho trechos de grandes clássicos da literatura vez ou outra? Mas não caia na tentação de adaptar por conta própria a linguagem desses clássicos por julgá-la muito difícil para crianças tão pequenas. Os grandes autores são grandes exatamente por seu modo singular de trabalhar com a linguagem! A escuta da poesia, em especial, tem a propriedade de aguçar a sensibilidade para sons e padrões rítmicos, como lembrou o poeta Érico Nogueira em entrevista para o blog – ele recita poesias em vários idiomas para os filhos desde que estavam na barriga da mãe e tem obtido ótimos resultados.

Enfim, você pode e deve partilhar leituras com seus filhos desde cedo, cuidando que a leitura seja algo habitual e prazeroso e o livro algo íntimo e sempre presente.

Fonte: Carlos Nadalim

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